
Carta ao Cris
Escrevo como forma de aliviar minha dor e o aperto que carrego no peito com a notícia que acabei de receber vinda do Brasil. Um amigo querido de infância, na verdade, um pirralho de minha infância, que me seguia pedindo “dinheirinho” com pés descalços junto com meu irmão Mazinho, que na época com em seus 10, 11 fazia parte da trupe dos “baixinhos” do bairro e eu já nos meus 15 anos, me sentia a toda poderosa indo trabalhar e já ganhando meu dinheiro, que de uma só vez, gastava tudo na Viana Leal, comprando Almiscar ou perfume de Maçã Verde…imaginem a fortuna que ganhava, pois lembro-me que dava para comprar uma ou duas unidades dos perfumes.
O tempo passou e transformou-nos em adultos e nossas rotinas nos afastaram, mas o carinho e o afeto continuam presentes, mesmo longe uns dos outros. Como eu, nos meus 17 anos, nosso amigo Cris, sofreu um acidente esta semana no Rio de Janeiro e teve muitos dos seus ferimentos concentrados em sua face. Quando ouvia as notícias, meu peito se contraiu e parece que vivenciava novamente as dores do maxilar quebrado, a vergonha do olho esbugalhado com a perda de tecido ou o incômodo do nariz quebrado….e tudo aos 17 tem um peso enorme, e aos 35, no caso do Cris, continua tendo.
Neste momento a única coisa que peço é que nosso Pai Maior, nos carregue no colo ou melhor, carregue no colo nosso Cris e sua família que sempre esteve presente com seu carinho e com sua dedicação a todos. Pai, cuida do Cris, cuida da Sandrinha, cuida da noiva do Cris, cuido de todos que estão ao seu redor, para que todos se fortaleçam neste momento e juntos possam também carregá-lo no colo, da mesma maneira que eu fui carregada por todos os que me amavam !
Cris, estamos com você !
Geisa & todos que te amam.
Ps : Hoje aos meus 42, tenho a plena certeza que um dos fatos mais importantes que ocorreram em minha vida, foi o acontecido aos meus 17. Olhando e não me reconhecendo, fui “obrigada” pela vida a desenvolver habilidades internas que eu nem sonhava em possuí-las…este entendimento só começou a brotar, conscientemente lá pelos meus 35…..a cicatrização é um processo lento em nossas vidas, que podemos acelerar ou atrasar…sempre temos escolhas.